quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Comparando leitores digitais


Em meados dos anos 2000, os e-readers, ou leitores digitais, chegaram com a promessa de revolucionar o modo como a humanidade leu livros até hoje. Interativos e portáteis, os aparelhos, cada vez mais baratos, esgotam rapidamente das lojas de países como os Estados Unidos. E lojas como a norte-americana Amazon já vendem mais livros digitais do que físicos.
No Brasil, entretanto, o mercado de ebooks e de e-readers ainda engatinha. Pesquisa da consultoria GfK aponta que 67% dos brasileiros não sabem o que é um ebook. Mas a formação de uma aliança entre editoras para alavancar a digitalização de obras e o início das vendas de ebooks por grandes livrarias mostram que esse cenário tem boas chances de se transformar em pouco tempo. É nesse contexto que entram no mercado brasileiro os primeiros e-readers, tanto importados quanto de criação 100% nacional.
Se as previsões de especialistas como Jean Paul Jacob e Mike Shatzkin se concretizarem, em alguns anos, todos estarão lendo livros em e-readers. Conheça nas próximas páginas sete modelos de leitores de livros eletrônicos que podem ser comprados no Brasil, e outros sete que fazem sucesso no exterior.
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O fascínio das histórias de medo


A emoção mais forte e mais antiga do homem é o medo, e a espécie mais forte e mais antiga de medo é o medo do desconhecido. H. P. Lovecraft

Estamos num novo século e a tecnologia se desenvolve cada vez mais. No entanto, somos ainda os seres que, maravilhados, ouvimos histórias de feitos, façanhas, assombrações...Também aumentaram os veículos de comunicação, com o surgimento do rádio, cinema, televisão, computador. Cada um buscando, à sua maneira, relacionar-se com a narrativa.
E, num caldeirão repleto de gêneros, temos o desejo pelo medo. Querem a prova?
Pois perguntem a uma criança ou adolescente que tipo de história quer ouvir e terão como resposta um sonoro: TERROR!
O medo é um sentimento básico que faz parte do desenvolvimento emocional. Ele nos acompanha ao longo da vida e vai adquirindo novas dimensões e características.
Tudo já começa no nascimento, ou quem sabe antes, quando o bebê, que se encontrava numa situação de total aconchego e proteção, de repente, passa a conviver com um mundo desconhecido, caótico e confuso. Logo ele vai atribuir a esse mundo externo tudo que lhe faz mal, como a fome, o frio, a ansiedade. O mundo vai ficar dividido no que o satisfaz e lhe dá prazer e no que lhe provoca tensão, frustração e mal-estar.
A criança passa por vários estágios. No princípio, na sua fantasia, ela atribui poderes mágicos a seus pensamentos e desejos, não diferenciando o que imagina do que ocorre na realidade. O que ela representa em imagens tem relação com a intensidade de suas tendências amorosas ou destrutivas e com sua capacidade de tolerância à frustração. A qualidade dessa dinâmica será a medida dos temores e dos medos que sente e, no futuro, resolverão num plano imaginário, preservando nossa integridade física.
Acontece que, muitas vezes, pais, avós, familiares, amigos transformam o quase prazer que esses contos provocam em algo aterrador, através da atmosfera de pavor construída, e propositalmente criando um medo real, como se algo pudesse acontecer. E muitos de nós já fomos vítimas desse terror na infância, quando ouvíamos que uma infinidade de monstros podiam nos levar. Por isso deve-se tomar cuidado, não especificamente com o conteúdo, mas com a forma de utilização da história. Claro que estamos pensando em crianças que não estão traumatizadas ou têm algum transtorno psíquico ou psicológico. O professor francês Marc Soriano defende que “as crianças utilizam certo tipo de imagens que despertam nelas ressonâncias afetivas para se ‘vacinar’ contra eventuais traumatismos”.
Mas de onde vem esse fascínio pelas histórias de medo?
O psicólogo Bruno Bettelheim nos explicou o assunto a propósito dos contos de fadas, dizendo que são um meio de projeção dos instintos e problemas da criança. Através deles são exteriorizados determinados conflitos da psique infantil, dando forma e corpo a esses “fantasmas”.
Já Freud interpreta o sinistro como aquilo que foi convertido em espantoso, mas que em algum tempo foi familiar e conhecido.
Da união das duas idéias podemos supor que o sinistro, contido nos contos de medo, consiste em que tais “fantasmas” pessoais nunca nos abandonam de todo e nos revisitam periodicamente, materializando-se na ocasião em que algum estímulo os evoque. Por detrás do sinistro está, de forma encoberta um desejo
de algo proibido ou oculto.
Por isso, nos primeiros anos de vida, esses contos que tanto fascinam são importantes, como uma forma inconsciente de exorcizar medos reais através de medos fictícios.
E posteriormente servem para aprofundar o processo de amadurecimento pessoal, já que neles estão em jogo emoções básicas.
Outra questão que nos parece muito interessante é de onde vem essa noção de sinistro tão em moda atualmente?
Em primeiro lugar, fala-se de uma indução artística e literária ao medo que é provocada pelo grotesco, já que ele é o exagero, ou seja, o deformado, aquele que não tem forma.
Portanto há uma indução ligada à morfologia ou iconologia literária facilmente identificável nos fantasmas ou defuntos, por seu aspecto.
Essa idéia-núcleo de deformidade está na base de diversos arquétipos que se repetem incessantemente nas expressões artísticas.
Mas o prefixo negativo de (de)formidade pode ser lido também como aquilo que está contra a forma habitual. As personificações deformes seriam aquelas que se contrapõem à realidade percebida ou que inclusive se aproximam dos mistérios da morte, do vazio, do inapreensível.
Também há uma concepção degradada do grotesco, assimilada do aspecto disparatado, absurdo, extravagante ou grosseiro que vemos em muitos personagens.
Historicamente o grotesco já era conhecido na Antigüidade como podemos ver nas representações mitológicas dos centauros, sátiros, medusas... A literatura e a arte medieval também estão povoadas de expressões grotescas, por causa do tom religioso dessas artes e a conexão com o mundo sobrenatural e escatológico.
Portanto o deforme é o que está além da morte num duplo sentido: como carente de forma (espíritos, duendes...) e como exagero ou deformação (as visões do inferno, a imagem do diabo com chifres e asas de morcego).
Em todo caso, mais que a deformidade, o conceito moderno sobre monstro está aproximado ao desconhecido e à surpresa. O monstruoso é o contravalor da beleza, o espelho ou o foco que ajusta a sua imagem ou, dito de outra maneira, a outra face da mesma moeda.
É próprio do sinistro a sua presença latente, como na Cuca das cantigas de ninar, ou a necessidade de ocultamento, daí a importância dos heróis mascarados. Todos são pessoas com uma “pele de animal”, ou animais com uma “pele de pessoa”, trazendo de novo o mito.
Como exemplo de uma figura folclórica e sinistra, temos o “Homem do Saco”.
Sua fascinação depende do seu mistério, seu ocultamento, e mesmo seus objetivos não revelados. O que acontece é que essa irracionalidade é assimilada rapidamente, no campo moral, ligado à maldade e à monstruosidade.
Mas a morfologia das aparições sinistras coincide também com o luminoso. Assim a presença de Deus é a intuição do desconhecido, de uma força sobre-humana que produz pânico, estupor e fascínio, que causa ao sujeito experiências de diversos graus de prazer ou desprazer. Deus, em seus aspectos de fascinante, excessivo, superabundante, aproxima-se do conceito de grotesco no seu duplo sentido como carente de forma ou contra a forma, contrapondo-se à normal.
A experiência do sagrado se transforma à medida que a religião racionaliza a idéia do sagrado, em uma experiência do sinistro, do não-conhecido, do inominável, que adota as rubricas literárias do fantástico, estranho, aterrador.
Desse modo, o sinistro nos aparece como grotesco e o grotesco se reafirma como essa percepção irracional dos aspectos desconhecidos de nossa personalidade, como o retorno ao proibido, provocado por estímulos que têm alguma relação (metafórica ou metonímica) com essa pulsão latente.
A análise do medo, tendo como paradigma a psicologia e a psicanálise, é muito extensa, mas não poderia deixar de ser abordada, mesmo que, minimamente, nesse artigo.
Agora podemos perceber que o desejo pelas histórias de medo não é da atualidade.
Esses personagens são os que estão no nosso imaginário e há muito tempo amedrontam e convivem com o homem, embora tenham trocado um pouco de feição.
Nossos monstros de hoje estão baseados em arquétipos antigos, mas mudaram de forma e até de endereço. Temos, por exemplo, os alienígenas e até os psicopatas, bem verdadeiros, que passeiam pelas cidades ferindo ou matando.
Podemos conviver com todos os tipos de monstros, como os dos desenhos japoneses, os Aliens, os Dráculas, os morto-vivos e os seres primitivos, nossos velhos conhecidos, que ainda existem nas pequenas comunidades. E todos podem amedrontar, pois de alguma maneira revivem os mitos.
E será que essas narrativas também não trazem embutidas as velhas funções de Propp? Através delas, não estaremos buscando como desenlace a recompensa, a descoberta do objeto mágico ou a reparação de um mal?
Mas hoje nossos meninos não são os mesmos. Têm um mundo de modernidades que os faz ver e sentir de outra forma. Aprendem com mais rapidez, quando têm acesso à informação e à escola.
Podem ver o universo através das telas dos computadores e dos televisores.
Por isso muitas coisas se banalizam e sentimentos que deveriam ser preservados para toda a vida são esquecidos ou nem são sentidos.
Todas essas coisas se associam e para que possamos pensar um pouco sobre o reflexo delas nas crianças, trazemos uma declaração muito interessante do escritor Jesús Callejo que está no seu livro Los dueños de los sueños.
Ele sugere que, nos tempos atuais, a Cuca foi substituída pela opressão e comercialização que é feita com o carinho, quando alguém diz para uma criança: Se não fizer tal coisa, eu não vou mais gostar de você. Assim a criança vai incorporar à sua grande lista de temores o de não ser querida por aqueles de quem ela gosta tanto e necessita.
Esse será mais um dos conflitos psicológicos que ela terá que vencer ao longo da vida.
 
obs: 
1-Escrevi este texto para http://www.leiabrasil.org.br/pdf/revista_Medo.pdf
2-Imagem que ilustra O grito pintura de Edvard Munch
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domingo, 14 de março de 2010

14 de março - Dia Nacional da Poesia

Hoje, dia de nascimento do baiano Castro Alves, aproveitamos para homenagear os poetas e também a vida, pois a poesia dá sentido a nossa existência.

O POVO AO PODER

Quando nas praças s'eleva

Do Povo a sublime voz...
Um raio ilumina a treva
O Cristo assombra o algoz...

Que o gigante da calçada

De pé sobre a barrica
Desgrenhado, enorme, nu
Em Roma é catão ou Mário,

É Jesus sobre o Cálvario,

É Garibaldi ou Kosshut.

A praça! A praça é do povo

Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor!

Senhor!... pois quereis a praça?

Desgraçada a populaça
Só tem a rua seu...
Ninguém vos rouba os castelos

Tendes palácios tão belos...

Deixai a terra ao Anteu.

Na tortura, na fogueira...

Nas tocas da inquisição
Chiava o ferro na carne
Porém gritava a aflição.
Pois bem...nest'hora poluta

Nós bebemos a cicuta

Sufocados no estertor;
Deixai-nos soltar um grito
Que topando no infinito

Talvez desperte o Senhor.


A palavra! Vós roubais-la

Aos lábios da multidão
Dizeis, senhores, à lava
Que não rompa do vulcão.
Mas qu'infâmia! Ai, velha Roma,
Ai cidade de Vendoma,
Ai mundos de cem heróis,
Dizei, cidades de pedra,
Onde a liberdade medra
Do porvir aos arrebóis.

Dizei, quando a voz dos Gracos

Tapou a destra da lei?
Onde a toga tribunícia
Foi calcada aos pés do rei?
Fala, soberba Inglaterra,
Do sul ao teu pobre irmão;
Dos teus tribunos que é feito?
Tu guarda-os no largo peito
Não no lodo da prisão.
No entanto em sombras tremendas
Descansa extinta a nação
Fria e treda como o morto.
E vós, que sentis-lhes os pulso
Apenas tremer convulso
Nas extremas contorções...
Não deixais que o filho louco
Grite "oh! Mãe, descansa um pouco
Sobre os nossos corações".

Mas embalde... Que o direito

Não é pasto de punhal.
Nem a patas de cavalos
Se faz um crime legal...
Ah! Não há muitos setembros,
Da plebe doem os membros
No chicote do poder,
E o momento é malfadado
Quando o povo ensangüentado
Diz: já não posso sofrer.

Pois bem! Nós que caminhamos

Do futuro para a luz,
Nós que o Calvário escalamos
Levando nos ombros a cruz,
Que do presente no escuro
Só temos fé no futuro,
Como alvorada do bem,
Como Laocoonte esmagado
Morreremos coroado
Erguendo os olhos além.

Irmão da terra da América,

Filhos do solo da cruz,
Erguei as frontes altivas,
Bebei torrentes de luz...
Ai! Soberba populaça,
Dos nossos velhos Catões,
Lançai um protesto, ó povo,
Protesto que o mundo novo
Manda aos tronos e às nações.


Imagem: http://palavraliteraria.blogspot.com/ 
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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

E-books piratas retirados da web


Mais de 15.700 e-books piratas foram retirados da internet entre agosto de 2009 e janeiro de 2010. 
A ação foi uma iniciativa da Associação Brasileira dos Direitos Reprográficos (ABDR), responsável pela campanha “Combate à Pirataria Digital”.
Em 2009, a campanha ganhou departamento próprio em uma parceria feita entre a ABDR e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Segundo relatório das organizações, a editora que teve maior número de edições publicadas ilegalmente foi a Record.
As denúncias de downloads piratas de livros podem ser feitas por meio dos endereços copyright01@abdr.org.br e copyright02@abdr.org.br.
Fonte: http://olhardigital.uol.com.br/digital_news/noticia.php?id_conteudo=10715
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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Os Guardiões da Cultura Popular



Falar em literatura oral no Brasil é falar de um país que muitas pessoas supõem que não mais existe. O processo de desenvolvimento fez com que várias manifestações culturais deixassem de ser entendidas como tal. Vejamos o caso do Carnaval, possivelmente a maior festa popular do mundo, nela os foliões entregam-se aos seus desejos genuínos e primitivos sem saber que refazem, talvez atavicamente, o mesmo que fizeram todas as gerações passadas.
Especificamente com relação à literatura oral, andamos nos afastando também por acreditar que tudo são “causos”, lendas, superstições. Mas se temos a oportunidade de sentar ao redor de uma fogueira, toda essa ancestralidade nos penetra e logo passamos a contar as histórias ouvidas dos nossos avós.
A literatura oral está conotada com o passado de gerações e famílias. Nosso país tem uma miscigenação enorme e que varia de acordo com a região brasileira, pois somos a mistura de povos europeus, africanos, indígenas e asiáticos. Esse caldeirão de culturas possibilita a existência de muitas comunidades narrativas. Se tomarmos como exemplo uma favela do Rio de Janeiro sabemos que ali podemos ter histórias de várias partes do Brasil, devido à migração interna na busca de melhores condições de vida. Por isso, é fundamental fomentar nos jovens o desejo de preservar as histórias que são particulares da comunidade narrativa a que pertencem. Eles devem ser estimulados para que tragam as histórias que conhecem e passem a contá-las em todos os espaços possíveis. E aí podemos incluir a tv, o rádio, a internet, o cinema. Os jovens são sem dúvida o nosso maior investimento para a continuidade desse elo, neles devemos apostar. 
Mas é preciso ter técnica para fazer a recolha dos contos. É importante não interferir na hora da narração, coletar o conto no local onde normalmente é contato e não acreditar na memória ou na própria escrita, gravando tudo para a futura transcrição. Existem muitos livros que mostram textos recolhidos onde em primeiro lugar está o texto tal qual foi dito pelo contador é a seguir vêm uma tradução ou versão feita pelo pesquisador. Essa é uma boa maneira de registro. Claro que o contador popular pode sofrer interferência da platéia, seguindo outros rumos na hora da narração, mas sempre haverá uma estrutura mínima respeitada por ele. Essa estrutura, juntamente com a dicção que foi preservada, será a nossa fonte de estudo e a nossa matriz.
Pena que a escola, no nosso país, normalmente é muito preconceituosa com todas as manifestações populares. Podemos incluir nesse pensamento desde a escola elementar até a universidade. A literatura oral não é valorizada ou então é minimizada a mais simples estrutura possível. Imaginem se podemos dizer que o lobisomem possa representar, num país continental como o Brasil, todos os personagens do folclore que são peludos e comem gente. É uma redução apenas para dizer que o folclore está sendo ensinado na escola e ainda num determinado mês do ano, o de agosto, que tem no dia 24 a sua comemoração.. Como se nos outros dias não usássemos os ensinamentos recebidos das gerações que nos precederam. O problema é um total desconhecimento da importância do tema.
É bom lembrar que existe um diálogo entre a literatura oral e a literatura escrita. Os grandes escritores do mundo bebem de suas fontes naturais, constroem releituras, alargam visões. E no Brasil tivemos alguns autores/pesquisadores que contribuíram de forma decisiva nesse diálogo. Temos várias gerações criadas com a literatura mágica e essencialmente brasileira de Monteiro Lobato, o criador do sítio do pica-pau amarelo. Temos também Mário de Andrade e Luís da Câmara Cascudo, cada qual do seu jeito, valorizando os saberes do povo para construir no nosso imaginário a força da narrativa. O ideal é nunca fechar as portas do coração, nunca esquecer a aldeia de onde viemos.
Já que não dá para fazer uma divisão entre literatura oral e literatura escrita os contadores de histórias urbanos podem aproximar esses dois mundos, colocando a literatura escrita ao redor de uma fogueira mítica e valorizando a literatura oral dando-lhe o status de saber.
O escritor João Guimarães Rosa, questionado numa entrevista ao contar sobre seu processo de criação, revela: “Os homens do sertão, somos fabulistas por natureza. Está no sangue narrar histórias; já no berço recebemos esse dom para toda a vida. Desde pequenos, estamos constantemente escutando as narrativas multicoloridas dos velhos, os contos e as lendas, e também nos criamos em um mundo que às vezes pode se assemelhar a uma lenda cruel. Deste modo à gente se habitua, e narra estórias que correm por nossas veias e penetram em nosso corpo, em nossa alma, porque o sertão é a alma de seus homens. Assim, não é de estranhar que a gente comece desde muito jovem”.
Tudo o que foi descrito anteriormente só vem reforçar a importância do trabalho dos contadores de histórias para a preservação das culturas populares e a aproximação da população à leitura.
Mas como não há no Brasil uma formação específica na arte de contar histórias o interessado tem que ser autodidata.   Precisa ler muito, fazer muitas oficinas, ver muitos contadores, descobrir o seu estilo de contar, o gênero de história que lhe dá prazer. Evitar copiar o repertório que vê, buscar novas fontes, trazer outros olhares. E principalmente usar os seus próprios recursos. Cada contador tem suas sutilezas na hora de narrar. Por isso a mesma história pode ser contada de várias maneiras e todas serão belas desde que haja a entrega de quem conta.
Somos contadores na essência, estamos durante toda a vida construindo histórias. A narrativa faz parte do dia a dia. Um olhar para dentro pode ser o estopim dessa arte em cada um de nós.
Porém o mais importante é entender que a literatura oral é para ser brincada, dividida, compartilhada. Sejamos, portanto, solidários na vida e nos contos. De mãos dadas vamos atravessar o caminho onde nossas histórias se cruzam, se completam e se constroem.
Foto: Tião Paineiras de Tiradentes/MG feita por Lidio Parente
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Maravilhosos Contos de Fada


"As contadoras de história dedicadas estão sempre longe, aos pés de algum morro, afundados até os joelhos na poeira das histórias, retirando séculos de sujeira, escavando camadas de culturas e de conquistas, classificando cada friso e cada afresco de história que possam encontrar. Às vezes a história foi reduzida a pó, às vezes porções e detalhes estão faltando ou foram perdidos; com freqüência, a forma está intacta, mas o espírito está destruído. Mesmo assim, toda escavação traz em si a esperança de se encontrar uma história inteira, intacta". Clarissa Pinkola Estes

Os contos de fadas, que podem ter ou não a presença de fadas no seu enredo surgiram há muito tempo.
Quem lê A gata borralheira hoje não imagina que a mais antiga versão, que se tem notícia, foi encontrada na China, entre os diversos manuscritos datados do século VII. Mas também existe a versão egípcia, a coreana, dos índios Ojibwa (tribo dos EUA), do folclore brasileiro...Que se têm perpetuado há milênios, atravessando toda a força e a perenidade do folclore dos povos, sobretudo, através da tradição oral.
Uma das  primeiras compilações européias a conter contos de fada foi a do napolitano Giambattista Basile, erudito e aristocrata, talentoso narrador e observador atento da cultura popular. Em seu livro, de 1634, O conto dos Contos( Lo cunto de li Cunti), que tem como subtítulo O Pentameron(Il Pentamerone), existem contos que deram origem a histórias muito conhecidas: de “Sol, Lua e Tália” surgiu “A Bela Adormecida”, de “Zezolla” nasce “A gata borralheira”; de “Cogluso” temos “O Gato de Botas”... A obra possui a estrutura de um conto-dentro-do-conto e tem como narrativa-moldura a história de Zoza, a princesa melancólica que nada fazia rir.
Atualmente se acredita também que o personagem ogro, criatura humanóide horrenda que se alimenta principalmente de crianças, foi usada pela primeira vez por Basile.
Com uma prosa fluída, rica em imagens e metáforas (como o território das fadas bem exigem), Giambattista Basile soube exaltar a magia que rege a possibilidade de transformação da fortuna dos menos privilegiados e que passivamente se entregam à sorte e às vicissitudes da vida. Esta é a filosofia a imperar em um mundo instável que oferece somente a imaginação como recurso de uma nova lei.
Basile contribuiu muito para o gênero contos de fada, com o emprego de narradores vindos de classes mais baixas. Assim se fazia referências à cultura popular e à vida comum no fim da Renascença italiana e à sátira da cultura da corte e da literatura, tendo criticado em especial o comportamento aristocrático de seu tempo. E seus contos com certeza estavam distantes dos ideais de ‘felizes para sempre’.
Robert Darnton, historiador norte-americano, no seu livro La gran matanza de gatos: y otros episodios en la historia de la cultura francesa, nos informa sobre o que acontecia na França durante esse período. E que vai se refletir nos contos de fada.
"Si el mundo es cruel, la villa sórdida, y la humanidad está infestada de pícaros, ¿qué se puede hacer? Los cuentos no ofrecen una respuesta explícita, pero ilustran lo adecuado del antiguo proverbio francés Se debe aullar con los lobos."
Como historiador etnográfico, Darnton se ocupa da "gente comum" e não somente da historia dos personagens conhecidos ou poderosos. Investiga como as pessoas organizam a realidade no imaginário e como o expressa em sua conduta. O autor tenta reafirmar que, sem sermões nem morais, os contos franceses mostravam que o mundo era cruel e perigoso e, além disso, eram sinais de advertência não destinados às crianças, pelo menos não exclusivamente. Pois ninguém considerava às crianças como criaturas inocentes nem à infância uma etapa diferente da vida, que pudesse distinguir-se da adolescência, da juventude e da idade adulta. Na verdade, o conceito de infância tal qual a conhecemos hoje só passa a existir a partir do século XVIII.
Foto: Sapatos de cristal do estilista Martin Margiela.

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Historietas Assombradas

-Vovó, me conta uma história? Mas tem que ser uma bem arrepiante!
-Tem certeza? Responde a avó.
Assim começa Historietas Assombradas (para crianças malcriadas) de Victor Hugo Borges. 
O curta conta três histórias inspiradas em lendas do folclore brasileiro: Boitatá, Corpo-Seco e Jurupari, usando técnica mista de animação: stop-motion e animação 3D.
Vemos no início do filme um quarto de criança iluminado por um lampião, localizado atrás da avó, que sentada numa cadeira de balanço inicia a leitura da história, criando o ambiente propício à narração. Tudo é fantástico e fantasmagórico; o jogo de poder é estabelecido pelo confronto da neta que provoca a velha para adentrar no universo mágico do medo. E a atriz Mirian Muniz, que faleceu em 2004, com uma voz deliciosamente rouca, dá o tom exato para que a narrativa atinja seu objetivo, mas não perca seu caráter lúdico.
As histórias vão provocando um medo gradativo, bem observado pela criança, que ao terminar o Boitatá diz que não está assustada, pedindo que a narração continue. Chega a vez do Corpo-Seco, e a avó ainda ameaça: ”-Isso é pra você ver o que acontece com uma criança mimada!”. Nesse conto, o menino Ananias é tão mau que nem seu coração quer habitar o próprio corpo - suscitando no espectador uma interessante idéia de morte. Depois de barbarizar a todos, o menino morto-vivo se sente sozinho, recupera seu coração e volta para viver com a mãe. Ao final da história, a netinha pergunta: “-Como aquela mãe aceitou de volta um filho tão mau?”, e a sábia avó lembra que as mães sempre perdoam seus filhos.
Por fim chega a terceira história, e a avó narra a “pior de todas”, o Jurupari. Começa perguntando à netinha se está ouvindo algo; a menina arregala os olhos, olha em volta, e diz que não. Começa então a história da menina Filomena, que inferniza a babá com seus assovios, que é também uma maneira de chamar o Jurupari. O monstro vem e apavorada Filomena acaba adormecendo para se livrar do medo.
Acontece que a netinha apesar de assustada pelo medinho bom quer mais e a avó perde a paciência e também começa a assoviar trazendo o Jurupari para o quarto. E finalmente a neta assustada e a avó cansada dormem profundamente. Ao final ouve-se um acalanto cantado pela avó que mostra o amor pela sua netinha: “Meu morango... teus olhinhos me derrete o coração.”
Existe uma moral em cada uma das histórias que acaba se dissipando pelas interferências divertidas, irônicas ou sérias da avó. Nesse jogo a neta vai aprendendo das coisas da vida e da morte, que em última analise é para o que servem os contos.
A ordem das histórias é muito inteligente e mostra a seqüência de uma narração bem feita, permitindo que o imaginário vá abrindo suas comportas devagarzinho e que a pequena ouvinte se entregue. Pausas perfeitas e suspense nas interferências em relação à neta ou na própria história são reforçadas pela trilha sonora e dão um colorido especial ao curta, permitindo que toda a atmosfera das cenas saia da tela e se construa no imaginário do espectador.
É interessante notar que a terceira história, o Jurupari, tem como personagem uma menina, e assim a netinha faz uma transferência, passando a viver o medo, pois as crianças adoram se sentir como protagonistas dos contos que ouvem, como uma forma inconsciente de exorcizar medos reais através de medos fictícios, que servem para aprofundar o processo de amadurecimento pessoal, já que estão em jogo as emoções básicas do ser humano.
Veja o filme em http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=3297# 
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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Lendo com todos os sentidos


Lê-se com os olhos, e também com o olfato, com o paladar, com o ouvido, com o tato. Com todo o corpo e não só com as partes “altas” privilegiadas pela hierarquia dos sentidos impostas pela tradição metafísica: os olhos e a mente […]. A tarefa de formar um leitor é multiplicar suas perspectivas, abrir suas orelhas, afinar seu olfato, educar seu paladar, sensibilizar seu tato, dar-lhe tempo, formar um caráter. O único que pode fazer um professor de leitura é mostrar que a leitura é uma arte livre e infinita que requer inocência, sensibilidade, coragem e talvez um pouco de mau humor. NIETZSCHE

Quando vemos um livro, dependendo do grau de intimidade com esse objeto, podemos bocejar, espirrar, suspirar. Mas a atitude majoritária é ignorar, pois o livro não está no imaginário do povo brasileiro e não faz parte do sonho de consumo da população.
Os fatores são muitos para afastar o leitor do livro: falta de bibliotecas públicas bem equipadas, poucas livrarias no país, inexistência de programas na TV, rádio, internet que ajudem a formar leitores, livros com preços astronômicos e principalmente carência de mediadores de leitura que compreendam a Literatura como uma arte.
Ler é uma atividade muito complexa e desenvolver o prazer da leitura, normalmente entendido apenas como entretenimento, não é uma tarefa fácil, pois requer conhecimento de autores, estilos e gêneros literários. Mas só isso não basta, se o mediador não tiver introjetado que a leitura precisa colocar em ação todos os sentidos humanos.  

TATO
É preciso ler com dedos delicados, mesmo que às vezes seja necessário ler com os punhos. NIETZSCHE

O tato sempre foi um sentido coberto de pudor e preconceito. As dificuldades com o próprio corpo se refletem na relação com o outro. Ele é instintivo, não racional, tanto que é o primeiro sentido desenvolvido no feto, que reage ao estímulo dentro do útero. E quem estuda o assunto diz que é o mais social dos sentidos humanos, pois dá a dimensão das coisas, refletindo o que vem do nosso interior. Basta lembrar da pele arrepiada ao ouvir uma declaração de amor. Porém, cada vez mais a sociedade vem colocando esse sentido em segundo plano, nesse novo mundo virtual.
Para a leitura isso é um paradoxo, pois o ato de escrever começa a existir através dos dedos, seja na escrita à mão ou na digitação.
Já para o livro é o sentido que promove a primeira ação educativa que fazemos com as crianças ao ensiná-las a virar as páginas, apurando a sensibilidade de seus dedos. Ato que se repetirá e refinará ao longo da vida.
Também a falta de intimidade com o livro se mostra pelo tato, quando observamos alguém que não sabe de que maneira segurá-lo.
E sua relação é tão profunda com a leitura que possibilita ao cego o acesso à literatura, através do método Braille.
Só que é difícil encontrar nos livros imagens táteis descritas. Há visuais, auditivas, olfativas, mas raramente gustativas e táteis. E são as imagens que ajudam a construir lembranças.
Que tal associar o tato a memória?
Vamos imaginar que estamos numa livraria, caminhando pelos corredores a busca da seção dos livros que nos interessam, encontramos a prateleira, vemos as lombadas dos livros, letras variadas, cores diferentes. Fechamos os olhos e passamos as mãos pelos livros. Uma textura chama a nossa atenção. Pode ser áspera, lisa, aveludada. Puxamos o livro. Será leve ou pesado? Grande ou pequeno? Fino ou grosso? Está estabelecido o contato.
Deveríamos considerar o objeto livro como um corpo que se toca. Tateá-lo, sentir a estrutura de suas páginas, criar intimidade com sua forma, manuseá-lo. Essa é uma boa maneira de começar um tórrido caso de amor.


VISÃO
Nascidos para ver, educados para olhar. GOETHE

Os olhos são os grandes manipuladores dos sentidos, pois com eles vemos e compreendemos o mundo. Vamos decifrando os códigos e construindo juízos, percepções.
E é a visão que faz o primeiro contato com o objeto-livro. Começamos observando a letra, as imagens, o projeto gráfico. Podemos apreender várias informações que ajudam a descobrir o tipo de leitura que vamos encontrar: capa, lombada, orelha,... Quanto a desvendar num objeto que a principio víamos apenas uma história!
Mas os olhos também mentem e podem nos atrair para um livro apenas pelo seu aspecto visual ou nos afastar pelas quatrocentas páginas que contem. E a única possibilidade de saber se estamos enganados é conhecer seu conteúdo. No entanto, essa aproximação também pode ser periférica ou intensiva. E assim se define um leitor ou um momento de leitura que vai variar dependendo do material que temos em nossas mãos.
Talvez o grande avanço e a maior dificuldade seja aprender a ler com olhos de leitor e escritor. É importante distinguir esse duplo olhar, pois quem lê só como leitor, que não é algo ruim, fica num nível primário de leitura. É fácil detectar a falta da experiência leitora pelos conhecidos e primários julgamentos: gostei muito do livro, achei interessante, não gostei. Mas isso não é suficiente.
Para o pesquisador espanhol Victor Moreno é fundamental ler também como escritor: “Quem lê como escritor se verá obrigado a disciplinar seu olhar de um modo mais intenso, detendo-se naqueles aspectos que podem levá-lo a melhorar sua competência comunicativa, lingüística e sua educação literária”.

OLFATO
Mas também temos que saber cheirar as palavras, sermos capazes de captar seus aromas mais voláteis e mais dispersos. Saber distinguir o tipo de odor que as impregna: o cheiro de incenso, o cheiro de quartel, o cheiro de colégio. NIETZSCHE

Nas primeiras semanas de vida, as imagens e os sons necessitam
de significado e são os cheiros e o tato os principais estímulos que nos comunicam com o mundo. Mesmo assim o olfato sempre foi considerado um sentido modesto, de pouca importância, mas é o primeiro e último canal de comunicação com o meio externo, basta lembrar que quando nascemos é o ar que entra em nossos pulmões que promove a primeira manifestação de vida: o choro. E quando morremos, damos o nosso último suspiro.
O cérebro tudo cheira, por isso o olfato este sempre carregado de lembranças: o bolo de chocolate da casa da avó, o perfume do primeiro amor, o cheiro da terra molhada depois da chuva...
É o olfato que nos põe em contato com os aromas desprendidos pelos diversos componentes do livro, aspirando o frescor da tinta que vem de um livro novo ou o cheiro rançoso exalado por antigos exemplares. E sem muito esforço podemos associar nossas leituras também a muitas fragrâncias ou adjetivos olfativos: mentolado, floral, resinoso, doce, ácido, amargo, salgado, asfixiante, imundo, agradável, excitante, refrescante, delicioso, embriagador, balsâmico, penetrante.
Um mediador de leitura deve indicar livros com perfumes embriagadores, mesmo tendo a consciência de que não existe um bom olfato para os livros como existe para os negócios, principalmente se chegarem a leitores com narizes resfriados.

AUDIÇÃO
É preciso saber captar o timbre com o qual o livro fala, porque cada espírito tem seu som. Há livros que falam baixo e livros que falam alto, livros de tom grave e de tom agudo e talvez poderíamos acrescentar:livros que soam secos e sincopados como ordens militares, melífluos e ameaçadores como prédicas religiosas, confusos e mentirosos como mitenes políticos, falsos e ocos como tagarelices publicitárias. JORGE LARROSA

A audição é o segundo sentido a se desenvolver no ventre materno sendo precedido apenas pelo tato. Na 21ª semana de gestação entre em ação uma bela aventura sonora: o músculo cardíaco produz a pulsação rítmica, o estômago e intestinos produzem sons audíveis até fora do corpo, e o que dizer das articulações do esqueleto.
Gravações intra-amnióticas detectaram que de todos os sons a que o feto está exposto o que se destaca é o som da voz humana. Com isto deduz-se que o feto humano ouve a voz da mãe e dos próximos a ela, nas suas características particulares de ritmo, entonação, variação de freqüências e timbre. O bebê em gestação ouve a voz, mas não a palavra. Responde aos ruídos bruscos sobresaltando-se e fica imóvel ante uma voz suave ou uma música tranqüila. Ao nascer, quando a maioria dos órgãos sensoriais ainda estão imaturos, o bebê ouve perfeitamente.
Portanto no nascimento podemos começar a desenvolver a Leitura de ouvido termo usado pelo professor Ezequiel Theodoro da Silva, da UNICAMP, ao se referir ao ato de contar histórias.
Narrar histórias ficcionais, de família, inventadas na hora é a primeira estratégia eficaz de promoção de leitura. Todos que tiveram a oportunidade de ouvir relatam como uma experiência inesquecível. 
Mas é claro que isso não é suficiente se não fizermos a ponte com o livro. E aí a arte de narrar pode se repetir pela vida, pois o ouvinte entenderá a importância das duas ações: contar e ler.
Afinal o livro não produz ruído por si mesmo, onde são colocados ficam a espera de um leitor. E quando são abertos e lidos surgem as vozes do narrador, dos personagens, fazendo com que muitas vezes o leitor acredite estar vivendo a aventura daquele protagonista.
Existe um ditado que diz: não há pior surdo que aquele que não quer ouvir. Aplicado este refrão à relação que se mantém com os livros, encontramos certas conseqüências práticas. Do mesmo modo que se diz que não há livro tolo do qual não se possa extrair alguma idéia inteligente, assim se chega à conclusão que em qualquer livro uma pessoa pode ouvir/escutar não só o que lhe agrada.

PALADAR
Um grande número de livros faz perder o gosto de lê-los e mata o prazer. NIETZSCHE

Quando crianças detestamos os sabores amargos, desconfiamos dos ácidos, aceitamos os salgados e sucumbimos aos doces. Já adultos abusamos dos salgados e dos doces, apreciamos os ácidos e toleramos os amargos. Os gostos mudam com a idade e evoluem. As viagens, a variedade de acontecimentos temperam o sentido do paladar que ganha novos matizes de acordo com a experiência.
A palavra gosto pode se referir ao sentido localizado na língua e as sensações que se experimentam com o dito órgão e também pode se relacionar com a estética. Por gosto estético se entende essa maneira de sentir e de julgar que temos das coisas e das pessoas.
Os textos que nos oferecem podem ser triturados de mil e uma maneiras porque os objetivos da leitura são múltiplos e variados, mas dizer de uma obra que “gosto ou não gosto” é, certamente, um pensamento tão profundo que não diz nada.
Claro que dizer “gosto”, é algo fundamental para decidir se continuo ou paro de ler um livro. Mas esse vislumbre do gosto só servirá a mim e aos outros, se ao mesmo tempo me pergunto por que.
Desenvolver o gosto pela leitura será mais fácil se tivermos livros diferentes para os destinatários, pois à medida que crescemos vamos ficando mais exigentes com tudo que nos rodeia. Assim como os sabores, ao longo da vida, vamos descobrindo autores, gêneros, estilos, níveis de degustação leitora (pessoal, interpretativa e crítica).
Nietzsche sustenta que a arte da leitura está relacionada com o sentido do gosto e com a saúde da digestão. Ler é comer bem: saber escolher os livros que estão em harmonia com a própria natureza e rejeitar os outros; ler livros variados, ler com prazer e frugalidade, assimilar o essencial e esquecer o resto. É preciso tomar a leitura como algo que aumenta a própria força, dedicar-lhe o tempo justo.
Os livros são valorados pelos seus efeitos sobre o gosto e há, portanto, livros doces e amargos, picantes, saborosos, ácidos, insípidos, frescos, de digestão leve ou pesada, livros que dão nojo ou que não é possível tragar. Há pessoas que são o que comem, outras, por essas mesmas razões, provam que são o que lêem.

POR ONDE COMEÇAR
Essa é uma escolha individual, mas que deve vir acompanhada de um sentido que metaforicamente ajuda a todos na travessia da vida. Trata-se do humor que possibilita a reflexão, alivia as tensões e nos difere dos outros animais, já que “o homem é o único animal que ri”.
Então que a partir desse momento cada um abra as comportas dos seus sentidos e olhe, ouça, toque, saboreie e cheire um inesquecível livro. E siga os conselhos de Jorge Larrosa que alerta para a conveniência de afastar os "livros-pregadores que correspondem aos leitores-crentes" estimulando o leitor a procurar "os livros que contam e os leitores que importam"

Bibliografia:
- MORENO, Víctor. Leer con los cinco sentidos. Pamplona: Pamiela, 2003. 
- LARROSA, Jorge. Nietzsche & a Educação. Tradução de Semíramis Gorini da Veiga. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
Foto de Fabiano Moraes de Vitória/ES por Lidio Parente
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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Quem escreve o blog

Sou Benita Prieto e moro no Rio de Janeiro, mas desde 1990 tenho trabalhado pelo Brasil e pelo mundo levando nossa literatura oral e escrita.
Contadora de Histórias do Grupo Morandubetá, Atriz, Escritora, Produtora Cultural, Especialista em Literatura Infantil e Juvenil e em Leitura: Teoria e Práticas. Idealizadora e Produtora do Simpósio Internacional de Contadores de Histórias. Presidente do Instituto Conta Brasil. Coordenadora da Red Internacional de Cuentacuentos.
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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

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